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A verdade vestida com poesia: uma defesa do Papai Noel

  • Foto do escritor: Caneta Peregrina null
    Caneta Peregrina null
  • 4 de dez.
  • 4 min de leitura

Nem sempre a verdade usa a lógica para se fazer entender, às vezes, ela se veste de poesia para entrar no coração. Jesus sabia disso. Quando falava do Reino, Ele não desenhava mapas nem citava coordenadas; não demonstrava os fatos em cálculos matemáticos puros. Ele pintava em palavras campos, sementes, figueiras, noivas à luz de lamparinas. Ele dizia ser Pão e Água. E ninguém dizia que Ele estava mentindo. Cristo continuava criando e revelando, não escondendo. No Antigo Testamento também é assim. José sonha, Ezequiel vê rodas dentro de rodas, Isaías imagina um cordeiro que carregaria o pecado, Davi conta como o Senhor é pastor, mesmo sabendo que Deus não pastoreava ovelhas na montanha.Era imaginação? Sim. Era mentira? Não. Quando o Filho de Deus disse ser necessário nascer de novo, alguém de pobre imaginação perguntou: "todavia poderei eu voltar ao ventre de minha mãe?". Nicodemus, doutor da lei, tentava usar a lógica para acessar o que só poderia ser alcançado através do absurdo. Jesus não mentiu, ele vestiu a verdade de poesia. Para alguns, a poesia é, compreensivelmente, difícil, e por ser difícil, tendemos a nos esquivar dela, nomeando-a de mentira. Mentira é quando alguém engana para roubar, manipular ou humilhar. Diferente da imaginação, um recurso derramado por Deus sobre suas criaturas para serem seus co-criadores. Criar para iluminar, inspirar e consolar. E é aí que entra o Papai Noel. Quando uma sussurramos para uma criança: “Ele vem trazendo um presente para quem obedeceu durante o ano”, não estamos mentindo para confundi-la. Estamos fiando com a mesma linha que Deus usou ao falar conosco: imagens, símbolos, metáforas que encorajam o fruto do Espírito, a obediência e as boas obras. O Papai Noel não rouba o lugar de Cristo; Ele aponta para Ele. A generosidade, a alegria, o dar sem exigir de volta, tudo isso volta a proa do barco do coração na direção da manjedoura. Quando uma criança imagina trenós voando e renas saltando, ela não está enganada, ela está praticando a capacidade divina de enxergar o invisível. A imaginação é o ensaio da fé. É o músculo que prepara a alma para acreditar no Deus que ninguém vê, mas que transforma tudo. Se alguém me perguntar como permito meus filhos acreditarem em Papai Noel, eu parafraseio Tolkien respondendo a Lewis: Papai Noel existe para servir a Cristo, a realidade primária da própria vida. E acrescento as próprias palavras do filósofo, professor e maior autor de fantasia do mundo: "os materialistas nos prenderam num mundo onde só há fatos. Fomos convencidos por eles de que mito é sinônimo de mentira. Esta é uma asquerosa afirmação de que não há nenhuma ordem sobrenatural no universo. Os materialistas nos prenderam em um mundo onde só há matéria, separados e desprovidos de verdades metafísicas. O que eu digo é que eles estão mentindo. Nos prenderam em 3 dimensões, 5 sentidos, 4 paredes. São paredes de uma prisão e os materialistas são os carcereiros. Não querem que vejamos o que há além das paredes, ou que vejamos além de sua estreita filosofia. Para eles tentar sair de sua prisão é um ato de traição contra a racionalidade. Mas como pode ser errado o prisioneiro pensar em coisas existentes além de carcereiros e paredes? Se a prisão é tudo que existe como podemos formar imagens de coisas fora da prisão? É aqui que os mitos entram. Mitos existem fora da prisão e nos permitem escapar da prisão. Ou ter um rápido, porém maravilhoso e poderoso relance da beleza que há para além das paredes." Jesus usou um samaritano inventado para nos ensinar a beleza e a verdade de amar sem medidas. E eu posso usar um velhinho de barba branca para ensinar meus filhos que generosidade existe, e que a bondade visita a quem espera por ela. Papai Noel não é mentira. A mentira destrói. Papai Noel é imaginação, a imaginação constrói. A mentira empurra para fora da realidade; a imaginação abre janelas para entrar mais luz. O Papai Noel que entra na nossa casa pela porta dos fundos (porque não temos chaminé) não é um truque barato do capitalismo, mas um mito poético para dizer aos meus meninos o que Davi e Moisés ensinaram: embora não sejamos salvos pelas obras, há grande recompensa para quem obedece. E um dia, quando eles forem maiores, descobrirão que o Papai Noel é simbólico, mas o princípio é eterno. Cristo nos salvou pelas Suas próprias obras, mas ainda assim, há recompensa para quem ama a obediência. Vale a pena esperar. Há recompensa prometida para os filhos do Papai do Céu. E então eles não ficarão decepcionados: eles ficarão gratos. Porque aprenderam que a vida, às vezes, fala melhor por imagens que por definições cruas, por mitos, símbolos e histórias, que por razão simples. Compreenderão que a verdade às vezes não faz sentido, assim como uma virgem dando à luz a um bebê que morrerá e ressuscitará ao terceiro dia. Não negamos a verdade, nós a vestimos com poesia. E poesia, quando bem usada, nunca engana ninguém. Ela só abre os olhos para aquilo que as palavras secas não conseguem mostrar. Convide o Papai Noel a se ajoelhar diante do Autor da grande poesia que é o Natal.

 
 
 

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